registos, leituras, ecos, palavras, imagens, gestos, passos de dança e ensaios de voo...
aromas e sabores que (a)guardo carinhosamente





quarta-feira, 31 de março de 2010

presente em tons pastel

(Photo by valakiria on deviantArt)

embrulho de primavera
orquidea champanhe
laço de chifon
braçado de tulipas

porcelana fina
pintada à mão

assim os sentimentos
e t e r n o s
(in)quebráveis


terça-feira, 30 de março de 2010

dias de chocolate...

"Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates."

Fernando Pessoa, in Tabacaria

(Photo by armene on deviantART)


o inverno está à porta, o frio chegou para ficar, a manta de quadrados aguarda por mim dobrada num canto do sofá macio. na mesa repousam os livros e os dvd's comprados no fim de semana. dirijo-me à cozinha e disfarço a solidão com uma velha receita culinária. derreto o chocolate em banho-maria, e delicio-me com o aroma que rapidamente se espalha no ar, junto a manteiga e as amêndoas na taça de madeira sem idade que guardo carinhosamente, a colher de pau vai e vem num ritmo calmo e constante, certifico-me que a massa tem a consistência que desejo e aguardo que arrefeça. aproveito para recortar pequenos quadrados de papel vegetal; poderia ter escolhido papel colorido, mas neste agrada-me o toque e o barulhinho quando o amarroto. levo a colher à boca para provar, sempre que o faço retrocedo no tempo; volto a ser a menina de saia de pregas e fita de seda no cabelo rebelde, aquela que roda, roda, roda... até cair no chão, e acredito que neste gesto está o segredo dos meus beijos. (a)provada a massa, moldo os bombons, passo-os pelo açúcar e coloco-os no centro dos quadradinhos de papel que recortei. embrulho-os um a um delicadamente, antecipando a alegria de os oferecer. regresso à sala com a travessa de bombons que coloco no centro da mesa, longe das patas do "meu" rafeiro, mas à vista de todos assim que entram. sento-me no sofá a bebericar a minha cidra quente, pego num livro que não leio; mentalmente revejo invernos distantes, repletos de beijos de chocolate, de miúdos e de graúdos que hoje vivem na minha cabecita de vento e de saudade. Adormeço.
 
 
 
 
----------
 
 

sexta-feira, 26 de março de 2010

a splash away (VI)

sobrepõe-se o dever.
nestes momentos insiste em perguntar-se se resistirão os elos de afeição que os unem. dá-se à tristeza e à solidão numa espécie de punição auto-induzida, temerosa e imprudente… vã e efémera a fuga ensaiada ao sonho e ao sorriso… ele é sol e luar, alegria inopinada e sentir em botão, é música que a inspira a novos passos numa dança por inventar, imparável e rodopiante!

quinta-feira, 25 de março de 2010

a splash away (V)

trocam palavras como beijos, palavras puras que bebem sedentos de calor e de paixão. secretamente amantes dos passeios solitários (aqueles que fazem na imaginação), caminham lado a lado, num passo certo marcado pelo alegre abanar de cauda do "terrier" que não a abandona. procurando-se e acariciando-se, descobrem-se refúgio dos sentidos, do fogo da noite e dos tons sépia do amanhecer. com gestos de prazer, constroem ninhos perfumados em telhados de cristal. pousos transparentes, iluminados pelos reflexos prateados duma lua sempre cheia, onde comungam a presença do outro em fragmentos de silêncio... e assim abraçados, mergulham na nostalgia sorridente que lhes dá abrigo.

quarta-feira, 24 de março de 2010

divagações (nocturnas)

acredito que o poder sobre uma relação pertença a quem menos se envolve, àquele que a qualquer momento possa simplesmente desligar-se do outro sem grandes dúvidas ou contemplações, no entanto, pergunto-me, ter o poder sobre as nossas ligações afectivas, significará ser feliz?! ou, será essa reserva, esse cuidado em manter o controle, o primeiro passo para o desprendimento e a solidão?!

quando nos deparamos com alguém de "coração destroçado" dificilmente concluímos ter sido "o amor" caminho para a felicidade, no entanto, reconheço que os momentos em que me senti mais alegre, mais viva, mais feliz, foram momentos de amor, de entrega apaixonada a alguém - ou a algum ideal, momentos de elevada fragilidade, é bem verdade, e ainda assim, de audaciosa doação. no entanto, deverá a efemeridade desses momentos incitar-nos a abrir mão dessa nossa capacidade de "transcendência"? ou, as vezes em que depositamos as nossas esperanças, os nossos melhores sentimentos, imerecidamente, nas mãos de alguém que se mostra indigno/a, levar-nos a fechar o nosso coração aos outros?

existirá uma margem de segurança passivel de ser aplicada...?! porque não nos proporciona a natureza humana um qualquer "air-bag" emocional capaz de proteger sem nos tirar do caminho certo...?!

terça-feira, 23 de março de 2010

a splash away (IV)

fascina-a a embriaguez que este sentimento lhe provoca. sente-se dentro e fora do mundo, observa a vida através de um caleidoscópio multicolorido e passeia-se num universo paralelo - só seu, onde a paixão se sobrepõe à realidade. evitando acordar para o real (ou para a distância), gere as dicotomias (dever/querer) com a maior disciplina que lhe é possível, fazendo de tudo para que o êxtase não se perca. enquanto isso, a sua mente perde-se em ilações, mensagens subliminares de um coração apaixonado. ampliam-se os sons, agudizam-se os sentidos, valorizam-se as cores e os sabores, cozinha-se a paixão em lume brando...

segunda-feira, 22 de março de 2010

a splash away (III)

ambos nasceram junto à praia. em praias diferentes é bem certo, com diferentes vivências, cresceram em enquadramentos diversos. as suas histórias de vida teram poucos pontos comuns, mas sente que poderiam ter sido amigos de infância. consegue imaginá-los compinchas de cabelo queimado pelo mar salgado, ele na água, a romper as ondas, ela na areia molhada a sentir o sol na pele e o vento no rosto. terá sido o marulhar que os juntou? essa música de fundo que a acompanha na imaginação, aquele movimento constante de ondas que morrem para de novo se erguer? porque é esse o ritmo que sente no peito aliado ao bater do seu próprio coração... hoje, quando falam do mar, são envolvidos pela nostalgia das suas memórias mais ternas, multiplicidades de sentires que as falésias eternizam e neles encontram fio condutor para diálogos apaixonados. descalços, a enterrar os pés prazeirosamente na areia molhada, jeans arregaçados, olhar preso na linha do horizonte, a oceanos de distância, vivem a mesma sensação de liberdade, o mesmo voar sem asas, o mesmo coração de mar... gaivotas perdidas à procura de... sabe Deus o quê...

domingo, 21 de março de 2010

a splash away (II)

espantosamente, é assim que o sente: a sua ilha perdida, o seu lugar mágico. o conhecimento que partilham um do outro, foi alicerçado nas suas buscas interiores e omite vários lugares comuns. não começaram o seu relacionamento tentando reunir sobre o outro a informação que consideraria básica noutras circunstâncias, e, talvez por isso mesmo a empatia se tenha instalado. foram preenchendo o tempo que passavam juntos com gargalhadas sonoras e beijos demorados quantas vezes entrecortados por relatos avulso, quase inesperados, de acontecimentos pontuais ou anseios profundos. assim, foram construindo o seu relacionamento com uma naturalidade que ainda hoje a deixa surpresa: sem pressões, sem projectos, isentos de “timings” ou obrigatoriedades... depressa percebe que os momentos que vivem juntos são os melhores do seu dia. já nem se surpreende quando dá por si, reservando imagens mentais, pensamentos ou ideias para posteriormente desenvolver a dois. o seu encontro parece vir reforçar a máxima estafada: "quando menos esperares tropeças no que procuras" - surpresas que a vida nos reserva quando menos esperamos.

quinta-feira, 18 de março de 2010

a splash away (I)

apercebe-se das lágrimas mornas que lhe correm no rosto, e sorri. permitir-se a amar, deu-lhe energia para forçar o recomeço. enamorada pelas brumas que o envolvem, pressente a sua presença em cada suspiro inesperado que rapidamente transforma em motivo de alegria. e a cada sorriso, o encanto aumenta acrescentando paixão aos dias sem sol, impedindo que as nuvens lhe escureçam o olhar brilhante que cintila ao ritmo das melodias partilhadas nos dias e noites que se entrecruzam em ímpar harmonia de sentires. e porque o seu amor existe já não lhe falta calor... pelo contrário, corpo e alma clamam pelos mistérios da sua "ilha de Avalon"...

segunda-feira, 8 de março de 2010

coração... [de chocolate]

(photo by sortvind on deviantART)

o meu amor,
tem alma de chocolate
e uma braçada de beijos
em lábios escarlate

o meu amor,
abraça a tristeza
oferece-me uma flor
vive na incerteza

o meu amor,
condena-me à paixão
derrete-se-me na boca
rouba-me o coração

o meu amor,
é o melhor de mim
pele "açúcar-com-canela"
cheiro a jasmim

quinta-feira, 4 de março de 2010

palavras perdidas e confusas

(photo on deviantART)
ser...
o raio de sol que
te desperta, nas manhãs
em que sonhas e me
imaginas nos lençóis ainda
quentes onde o cheiro
e o desejo te confundem,

estar...
a teu lado quando
o sorriso explode
no olhar que ilumina
o dia e eu suspendo
a respiração para que
o ar não me falte e
a paixão não se acabe...

e, quando
a noite chegar,
ser... o casaco que
te protege do frio das
horas de solidão,
enquanto as estrelas
murmuram palavras
perdidas e confusas
que pretendem dizer
(apenas):
gosto de ti!

segunda-feira, 1 de março de 2010

celebrar a vida

(Photo by Roux on deviantART)
contando
o tempo que voa
em versos
que eternizam o (a)mar
contando
sorrisos decididos
decerto iluminados pelo luar
contando
beijos e desejos
em velas ainda por soprar...
conto e canto
a tua presença na minha vida
a cor, a luz e a força para sonhar,
os beijos, os tempos e as marés,
a vida que importa celebrar