registos, leituras, ecos, palavras, imagens, gestos, passos de dança e ensaios de voo...
aromas e sabores que (a)guardo carinhosamente





sexta-feira, 30 de abril de 2010

maresia

"metade da minha alma é feita de maresia"

Sophia de Mello Breyner Andersen


(Photo by coisasdemiuda on deviantART)

é o teu sorriso que me ilumina
e o teu olhar que me transforma

em ti, o que é pequeno e vulgar
passa a grande e único,
a vida tantas vezes rotineira
toma contornos de aventura e de prazer.

pelos teus olhos vejo a beleza,
a certeza de que tudo é possível
de que todos os sonhos se podem e devem realizar.

por ti, cresce o desejo
e a coragem de acreditar que quero

o aroma a maresia,
os gritos das gaivotas,
o ritmo alegre das ondas
e a liberdade do vento

por ti, a paixão...
em ti... e no olhar que me transforma!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

quando me embalas

(Photo by iNeedChemicalX on deviantART)

quando me embalas
com as tuas palavras doces
sinto o calor dos teus braços,
o toque suave do teu corpo,
o teu dedo nos meus lábios.

sonho o desejo e as caricias,
invento a liberdade de te querer,
e tudo se desvanece à minha volta...

para lá do véu diáfano que criei
ficámos tu e eu:
num abraço que tende para infinito,
à distância de um cerrar de olhos imaginário

suave e denso,
és nevoeiro que me encanta,
brisa marinha
que me embala e enternece

quarta-feira, 28 de abril de 2010

portas entreabertas

(Photo on deviantART)

luminosidade ofuscante
reflectida em gestos
que ensaio só.
tentativas mescladas
de músicas e sabores:
maçã verde, canela e gengíbre,
aromas e cores
de enfeitar sorrisos
com que fantasio o calor,
os murmúrios sussurrados,
as mãos e os beijos,
o toque suave
das pontas dos dedos
- pele, arrepios e o rubor
crescente no rosto,
sentidos e sentimentos
indisciplinados.

mergulho na luz das velas
que me perfumam o caminho,
abro as janelas
e deixo as portas entreabertas
desejando sentir-te chegar
nesta primavera
que guardei para ti

terça-feira, 27 de abril de 2010

...

talvez seja de bom tom explicar que estou demasiado triste, demasiado só, demasiado pobre emocionalmente, para conseguir escrever alguma coisa que valha a pena ler.

mas... aprendi a querer bem a este espaço que me liga a algumas almas distantes, como se este lugar fosse uma espécie de ponte entre continentes, um contacto permanente com o melhor de mim... e aqueles que guardo no coração .

a vida prega-nos algumas partidas, e nestas alturas, a única alternativa é continuar... um passo de cada vez, caminhar, peregrinar, até... não sei até onde... já soube, ou já pensei saber... ainda assim, continuar é a resposta.

e como diz um amigo querido, a ver vamos... 
eu, estarei por aqui, colocarei alguns textos antigos em jeito de grito de vida, ou talvez apenas para me certificar de que ainda existo, de que não desisti, não ainda...

amo... os que estão, os que partiram.
amo... e não saberia viver de outra forma.

luto sentido...

(Photo by baspunk on deviantART)

o luto:
negrejar no trajar, atrato meu,
reflexo de sentimento magoado

luto,
pela memória, pelas lembranças,
pela tua presença constante no meu coração

o luto
de negro pesar,
escuridão, dor e tristeza

luto,
desafiando os pensamentos soturnos,
combatendo a sombra que me teima em cobrir

o luto
por amor
e pelo amor

luto
superando obstáculos, rompendo barreiras,
arrancando as raízes, semeando sorrisos

o luto
(con)sentido
no outro lado
do (a)mar...

segunda-feira, 26 de abril de 2010

dias a fio

mergulhar na dor é muitas vezes solução obrigatória para acalmar a alma ferida e adormecer a mágoa insustentável da perda. escondo-me num recanto profundo deste (a)mar que trago no olhar, permito que as lágrimas me salguem o rosto, bebendo as recordações calorosas em tragos amargos de imensa saudade. o tempo passa devagar, quase parando enquanto choro convulsivamente permitindo-me assim um luto plangente e a catarse necessária à purificação do espírito enfraquecido.
(...)

gaivota de asa quebrada, sem força nem vontade de retomar a batalha da vida. fragilizada, perdida. só. afasto-me do mundo e não quero regressar.
(...)

tento emergir. procuro forças para me afastar do refugio em que me alheio do mundo, procuro dentro de mim, a raiz da raiz do amor generoso que trago comigo - que trago comigo dentro do meu coração! desse amor surgirá o impulso que me erguerá.
(...)

a luz traz consigo a lucidez e a dor aguda da saudade. o pesar mora no meu peito. não voltarei a abraçar-te ou a sentir os teus dedos nos meus cabelos. a tua voz meiga acompanha-me em sonhos de sol e céu azul, para me acordar com o lamento gravado na memória: - Vetinha, a avó está tão velhinha. A avó nunca mais te vê, amor!!!!
- Avó querida, eu não queria deixar-te! ainda sinto o teu abraço, os teus beijos constantes e os teus mimos doces. Avó, perdoa-me a ausência...
(...)

voltei ao abismo. ao lusco-fusco das águas turvas. sinto as correntes de vida e o assombro da dor sem refugio possível. regresso a mim. e dói, dói tanto...
(...)

sacodem-me as vozes dos que me rodeiam ansiosos por palavras meigas e gestos generosos... a vida continua. urge dar mais um passo em frente. procuro a árvore dos sorrisos que me guarda a janela, e inspiro-me no suave trinados dos passarinhos que me embalam - sabendo que só adormeço com o nascer do sol! obrigo-me a sorrir... - Bom dia avó!
(...)

domingo, 25 de abril de 2010

blow me a kiss

Escrever pode ser uma óptima desculpa para quem na vida não tem qualquer esperança. É uma maneira de preencher uma sombra e há momentos em que um beijo escrito vale por muitos.

Pedro Paixão, Nos teus braços morreríamos

(Photo by trishvandenberg on deviantART)


quinta-feira, 22 de abril de 2010

mãos de mimar

(Foto de Dora em olhares)


mãos
enrugadas,
cansadas,
ternas,
doces,
mágicas
como as palavras
de adormecer
meninas reguilas
de cabelos ao vento
e coração de mar;

caricias soltas
que se fixam
na memória
tecidas com enlevo
em intrincados enredos,
piques de sal
desenhados com lágrimas
que correm em fio

rendas sem bilros
espuma do amar

sábado, 17 de abril de 2010

i carry your heart with me

(Photo by Roux-S on deviantART)


 i carry your heart with me(i carry it in
my heart)i am never without it(anywhere
i go you go,my dear; and whatever is done
by only me is your doing,my darling)
i fear
no fate(for you are my fate,my sweet)i want
no world(for beautiful you are my world,my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you


here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart


i carry your heart(i carry it in my heart)






ee cummings

Querida avó Munda

"A morte não é nada.

Eu somente passei para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vós, continuarei sendo.
Dêem-me o nome que sempre me deram,
falem comigo como sempre fizeram.
Vós continueis a viver no mundo das criaturas,
eu estou vivendo no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene ou triste,
continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que o meu nome seja pronunciado como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.
A vida significa tudo o que ela sempre significou, o fio não foi cortado.
Porque estaria eu fora dos vossos pensamentos, agora que estou apenas fora das vossas vistas?
Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho...
Quem aí ficou, siga em frente,
a vida continua,
linda e bela como sempre foi."
 
(Santo Agostinho)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

amizade, "a mais pura forma de amar"*


tens as cores vibrantes do dia que começa: rosa, laranja e azul céu; o branco das nuvens que contamos juntos e da neve fofa onde escorrego entre gargalhadas soltas e leves... nos lábios (nem sempre) pintados guardo o meu melhor sorriso para ti - sorrisos aos pares e vermelhos como as cerejas. vejo o verde dos meus olhos reflectido no mel do teu olhar enquanto partilhamos sonhos e desejos; e se as lágrimas não têm cor porque as bebes na fonte, as palavras desenham um arco-íris só pra mim quanto dizes o meu nome ou me afagas os cabelos, que entrelaço no dedo, enquanto te ouço embevecida...

quarta-feira, 14 de abril de 2010

enquanto chove

Talvez a ternura
crepite no pulso,
talvez o vento
súbito se levante,
talvez a palavra
atinja o seu cume,
talvez um segredo
chegue ainda a tempo
– e desperte o lume.


Eugénio de Andrade

(Photo by Kyokosphoto on deviantART)

o mundo fora do mundo...
num arremesso de cabelos soltos,
segredos inocentes plasmados em
sorrisos puros e olhares intensos,
terra e céu do chão que piso.

duplicidades desenhadas
em aguarelas marinhas
aonde o vento me arrasta
quando me sopras ao ouvido
gestos de paixão
que traduzo tendenciosa...


domingo, 11 de abril de 2010

janelas abertas para o (a)mar

Eram de longe.
Do mar traziam
o que é do mar: doçura
e ardor nos olhos fatigados.


Eugénio de Andrade



(Photo by Sortvind on deviantART)



mergulho no aroma
da maresia que trazes contigo;
nos olhos verdes de te ver,
esconde-se o medo e a solidão,
ali a imensidão do oceano aviva a força
e a vontade de partir, permanecer
é uma ordem que não cumpro
sem dor, sabendo que
a voz me ensurdece
e a rouquidão me cega,
esquecendo que a envolvência dos corpos
não chega para matar a sede da alma

as sombras dos fantasmas
não me impedem de sofrer
a ausência do sonho
ou a musicalidade das lágrimas contidas...
sorrio e deixo que o sal
me doure o rosto e os cabelos
de vento e luz,
ofereço-te o melhor de mim
numa gota de água pura
que cai nas mãos pequenas
de mulher despida de ilusões,
despida de querer...


[rebelde a sensualidade que teima em romper: arrebatamento e paixão confundem pudores que se escapam pelas janelas abertas sempre que o (a)mar me chama - mas permaneço]

sábado, 10 de abril de 2010

jardim secreto


(Photo by Kyokosphoto on deviantART)

"É apenas o começo. Só depois dói,
e se lhe dá nome.
Às vezes chamam-lhe paixão. Que pode
acontecer da maneira mais simples:
umas gotas de chuva no cabelo.
Aproximas a mão, os dedos
desatam a arder inesperadamente,
recuas de medo. Aqueles cabelos,
as suas gotas de água são o começo
apenas o começo. Antes
do fim terás de pegar no fogo
e fazeres do inverno
a mais ardente das estações."


Eugénio de Andrade




(Photo by Kyokosphoto on deviantART)

recantos de encanto são os braços onde me abandono. pasmo e paixão os olhos verdes de te olhar, mesmo quando não estás, janelas no sonho em que flutuo entre lençóis amarrotados, beijos doces e ternos lábios, mãos estendidas, corpos nus, a tua pele na minha, arrepios e suor num bailado róseo (tom sobre tom) que começa quando me tocas sem ver a musicalidade dos aromas com que escreves o meu nome: rosmaninho, canela, baunilha e jasmim, jardim secreto na imaginação, porto de abrigo aonde me levas para não ver que o vento sussurra segredos e a chuva espalha lágrimas e dores... mas tu não.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

palavras que molham

«gosto das palavras que sabem a terra, a água, aos frutos de fogo do Verão, aos barcos no vento; gosto das palavras lisas como seixos, rugosas como o pão de centeio. Palavras que cheiram a feno e a poeira, a barro e a limão, a resina e a sol.»




Eugénio de Andrade



(Photo by sugarock99 on deviantART)

cansa-me a solidão,
a cama vazia
e a brancura do meu corpo.

maça-me
a ladainha estafada
contada pela almofada
molhada de lágrimas
que não tenho.

soltei os sonhos
gastos, amarrotados
pela sede e a saudade
- linho dos dias
em que teci
o pesado edredão
de penas e ilusões
que me protegem do frio
que já não há...

gela-me a dor,
a ausência consentida,
e o silêncio aterrador
quebrado aqui e ali
pelo ranger da madeira
sequiosa de sol e paixão.

delicados,
os pés descalços
em passos leves,
percorrem o corredor
nos dois sentidos,
sem nunca chegarem
a mim...

não me dês o que
não posso receber,
não prometas
o que nunca foi.

experimenta o sorriso,
talvez não vença barreiras,
mas aquece o dia!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

light my day

(Photo by WhiteBook on deviantART)

o cheiro da primavera inunda as ruas, os pássaros, que não sonham nem sabem que és tu quem me ilumina, invadem o dia com suaves trinados, sons que libertam sem direcção defina, mas que me fazem erguer o olhar ao céu sem nuvens e pensar naquele raio de sol matreiro que te incomoda nas tardes em que o trabalho se acumula na secretária - onde nem o laptop parece caber, e apenas o olhar terno de quem ama e a gargalhada solta e apaixonada fazem sentido.

terça-feira, 6 de abril de 2010

saudade


(Photo by ahermin on deviantART)

imagino a cidade, e o seu olhar brilhante perdido no oceano que se espraia até à linha do horizonte. visualizo a sua presença atenta e meiga, o sorriso constante de quem se sabe agradável, a elegância dos gestos, a conversa alternada com os risos... construo uma imagem mental quase palpável e dou por mim a sentir o cheiro, a ouvir os sons, e a partilhar as gargalhadas... sonho o rio, o trânsito caótico, a língua destravada e o café na esplanada da praia; desenho as ondas e a estrada à beira mar que atravesso com passos seguros no piscar de olhos em que transponho mares e pontes, voando no tempo e aterrando nos seus braços.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

splashing away

ergue o rosto queimado de sol e de sal, e mantem o passo. sabe ser detentora de um coração muito especial, uma espécie de caixinha de vidro frágil, transparente e multifacetado, que quando enamorado oscila entre a luz e o mar refletindo olhares encantados que misturam sorrisos e salpicos, sempre cristalinos, sempre puros, silenciosos e imperceptiveis ao comum dos mortais, mas não a ele. ele prova a cada dia ser um valoroso parceiro de aventura, um verdadeiro cavaleiro andante que a impulsiona a caminhar forte e segura. enquanto caminha, a vida acontece, os rios correm para a foz que lhes dá abrigo, e os mares crescem embalando melodias e paixões. hoje sabe que a história de contornos mágicos e brilhantes será sua para sempre e que a linha do horizonte terá eternamente a beleza dos tesouros que esconde...